sábado, 10 de setembro de 2011

Antiquário de lábios

Antiquário de lábios
O que é passado não pode acabar
É delicado, é companheiro da solidão
É como o animal que ladra com a gente
Até o último latido
Findada a jornada de cão.
As páginas da existência
Se querem ficar amareladas
Trancadas no baú da caduquice
Das memórias não lembradas
Carruagem veloz do tempo.
Fofoca de histórias mau contadas
Fendas abertas de medos aureolados
Na porta fechada do céu
Buscou a pressa urgente
O chaveiro chamado ternura.
O céu sem lua mentiu
Fez cair a cítara de doces ilusões
Lábios de ninfas pintados de prata
Almas nuas vestindo com corpos humanos
Os anjos descobertos, sentindo frio.
Velhos lábios que beijaram
As velhas túnicas dos Papas.
Rachados como a madeira queimada
Sobejo de cacos afiados
Como a boca que fala.

Esmorece a voz que não escuta
Como a boca que beija!

Palavras que podem ser escritas
São Escrituras talhadas
Na transitoriedade do tempo
Tudo sujeito da ação da gravidade
Perdido no buraco sem fundo
Da garganta inflamada
Que grita e quebra
Nada durou como eterno
Morre com terno beijo!

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